16/12/2010

Paleta de pintura


Paleta, em pintura, é o instrumento tradicional que o pintor usa para suporte da suas tintas. É onde a criação começa a se materializar, passar de realidade idealizada para realidade plástica. Como sou pintora, e de escola tradicional, tenho uma ligação íntima com esse instrumento. Uso a mesma paleta de quando comecei a pintar, ainda criança, uma de mão, retangular, que vinha na maleta de pintura da “Trident”. No princípio, a dividia com minha irmã, mas quando ela percebeu que a atividade permaneceria, providenciou uma outra maleta, um pouco mais incrementada, e que vinha com uma paleta maior, ficando a anterior definitivamente comigo. No atelier, quando adquirimos um cavalete profissional, foi mandado fazer sob medida uma paleta de bancada, toda invocada. No entanto, eu sempre retornava à velha paleta de mão, não sei se por apego, costume ou praticidade.

O momento disparador desse texto foi a limpeza da paleta. O mestre Dinyz sempre dizia que a paleta é o espelho do artista. Deve estar sempre organizada e limpa. Ela mostra as escolhas do pintor, revela parte da sua identidade. As lições do mestre incluíam a forma de dispor as tintas, a sequência, como misturar as cores. Mas não adianta, gosto de ver a briga do azul com o laranja, não sei usar o carmim sem esmeralda, amo misturar tinta com o pincel. Gosto muito, mas muito mesmo, de deixar as tintas que sobram acumulando nas beiradas, formando camadas, limpando toscamente o centro para uma nova mistura. Amo tirar um dia inteiro para limpar a paleta, raspando as tintas, descobrindo as cores das camadas anteriores, formando contrastes. É um momento de fruição, lendo imagens que ficaram escondidas. Girando a paleta, vejo os reflexos na água, um fundo de mar, um caminho no mato, árvores, céus, gaivotas. Vou encontrando as imagens, até chegar na madeira, com os resquícios das primeiras tintas, dispostas na “sequência ideal”. Neste momento, reflito sobre os ensinamentos dos mestres Dinys e Venâncio, relembro a sensação da descoberta de novos verdes e violetas.


No ano de 2007, apresentei a mostra “Viração”, onde eu refletia sobre as embarcações tradicionais catarinenses através das suas pinturas raspadas. O mestre tem razão, a paleta nos revela. Essas imagens são retóricas, já estavam todas prontas, há algum tempo, na face da minha paleta.


Imagem - paleta de Lilian Martins scaneada durante o processo de limpeza. Clique e salve, depois descubra imagens você também...

2 comentários:

  1. Anônimo18.12.10

    Oi Lilian,

    Postei este comentário no Blog mas acho que não apareceu...

    "O seu olhar sobre a paleta foi tão bonito que eu me vi te vendo..."

    abs
    Odécio

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  2. Parabens. A melhor expressão que se refere ao Artista brasileiro na época atual.Sou pintor em extinção e sei bem o que esta poesia diz. Abraços
    Jeovah Santos Artista Plástico. http://www.youtube.com/watch?v=O9Vjy8gogH0

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